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domingo, 14 de junho de 2009

Confrontos nas ruas do Irã mostram disputa entre facções do regime

No segundo dia de forte reação ao resultado das eleições presidenciais de sexta-feira, manifestantes enfrentaram a polícia iraniana nas ruas de Teerã e gritaram slogans oposicionistas do alto dos telhados neste domingo. Mas o presidente Mahmoud Ahmadinejad minimizou a reação à sua vitória como pouco mais do que "paixões após um jogo de futebol" e comandou uma manifestação de apoio popular à reeleição.

Longe das ruas, outro confronto, entre figuras que detém posições importantes dentro do intrincado sistema político iraniano, começa a ficar mais claro: de um lado o ex-presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, visto como apoiador do candidato reformista derrotado Mir Hossein Mousavi; de outro, o presidente, com apoio cada vez mais explícito do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei.

Veja abaixo diagrama sobre a divisão de poder no Irã

Não foi divulgado um balanço oficial sobre os confrontos nas ruas da capital, mas há informações de que 200 pessoas foram detidas nas últimas horas em Teerã.

Logo após o pôr-do-sol, gritos de "morte ao ditador" ecoaram por Teerã, enquanto milhares de apoiadores de Mousavi, um ex-primeiro-ministro que assumiu uma posição reformista, repetiam o chamado do alto dos telhados e das varandas. O ato profundamente simbólico ecoava os gritos de "Allahu Akbar" (Deus é grande), usados para demonstrar oposição à monarquia apoiada pelo ocidente que governou o país até a Revolução Islâmica, em 1979



Ahmadinejad foi reeleito presidente com 62,6% dos votos, contra 33,75% obtidos por Mousavi, que classificou a vitória de uma "piada perigosa", que "pode abalar os pilares da República Islâmica e levar à tirania".
As cenas deste domingo resumiram as demonstrações de força após as eleições: Ahmadinejad confiante em sua vitória, e Mousavi apostando em ser, ao menos, uma poderosa voz na oposição, longe da atitude comum no país de os derrotados se recolherem em silêncio após as eleições.
Como anunciara no sábado, o ex-primeiro-ministro reformista pediu neste domingo formalmente ao Conselho de Guardiães a anulação das eleições pelas irregularidades cometidas.

O órgão de juristas e religiosos, que deve validar os resultados, ainda não se pronunciou, mas em 30 anos a República Islâmica jamais adotou uma medida do tipo. Além disso, neste sábado o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, pediu que o resultado oficial da eleição fosse respeitado (veja abaixo um diagrama sobre a divisão de poder no Irã).

Choques

As lutas nas ruas neste domingo deram sequência aos enfrentamentos de sábado, nos maiores protestos no país desde as manifestações estudantis de 1999.

Os manifestantes voltaram às ruas com a mesma tática: queimaram fachadas de bancos e lixeiras, quebraram vitrines e atiraram pedras em brigadas antimotim. A polícia de Teerã respondeu com cassetetes --atingindo alguns pedestres que não faziam parte das manifestações--, enquanto o governo bloqueou os sistemas de envio de mensagens de texto por celular e vários sites pró-reformistas.

Na Universidade de Teerã, os protestos foram reprimidos de forma dura pela polícia, que lançou gás lacrimogêneo contra grupos de estudantes opositores, que gritavam "morte ao ditador" e "abaixo o governo golpista".

"Não aceitaremos essa fraude. Não vão conseguir nos deter. Fora, ditador" declarou um dos agredidos.

No início da madrugada, várias ruas apresentavam cenas de batalha. Caixas e pneus incendiados, propriedades públicas destruídas e grupos de milicianos islâmicos, aliados do presidente, armados com paus e cassetetes patrulhando a cidade formavam o cenário.

Como nos dias anteriores à revolução de 1979, famílias inteiras desafiavam as restrições e iam às janelas ou saíam às ruas para observar os distúrbios.

Outros faziam soar buzinas e mostravam laços verdes enquanto faziam o sinal de vitória, símbolo dos seguidores de Mousavi, que hoje exigiu a seus partidários que sigam com as manifestações, mas de forma pacífica.

"Meus filhos foram agredidos ontem à noite. Simplesmente voltavam para casa e um grupo basij [milícia de costumes islâmica] os parou e bateu neles sem perguntar", afirmou uma empregada doméstica no centro de Teerã.

O segundo principal responsável pela polícia em Teerã, o comissário Ahmad Reza Radan, confirmou que durante a noite de sábado para domingo foram detidas cerca de 50 pessoas relacionadas "com a organização dos distúrbios", e que outras 120 foram detidas por "violar a lei durante as manifestações".

Entre os detidos estão Abdula Ramezanzadeh, vice-chanceler durante o governo do ex-presidente Mohammad Khatami e o diretor-geral da plataforma política pró-reformista Frente de Participação, Mohsen Mirdamadi.

Também foi detido Mohamad Reza Khatami, irmão do ex-líder, embora tenha sido libertado pouco depois.

A maioria também foi libertada horas depois, como informaram fontes ligadas às autoridades locais.



"Protestos naturais"
Em uma grande coletiva de imprensa no palácio presidencial, Ahmadinejad voltou a negar a fraude e acusou a imprensa internacional de se intrometer nos assuntos internos do Irã e de transmitir uma imagem falsa do país.


O presidente minimizou, além disso, os protestos que, desde o fim das eleições, têm acontecido na capital e outros pontos do país. Ahmadinejad disse que são "naturais" e os comparou à frustração que muitos torcedores sentem quando seus times perdem uma partida de futebol.

Depois, em discurso perante milhares de fiéis partidários no norte de Teerã, o presidente retomou o tom mais agressivo e lembrou que o país nunca renunciará ao polêmico programa nuclear.

O presidente reeleito apareceu em meio a um mar de bandeiras vermelhas, brancas e verdes --as cores do Irã-- empunhadas por partidários que se reuniram na praça Vali-e Asr, no centro de Teerã. Muitos subiram em carros para aplaudir a vitória do presidente.

"Algumas pessoas dentro e fora do país são mais católicas que o papa", disse em um discurso que a multidão interrompia com gritos de aprovação. "Eles dizem que houve uma fraude. Onde estão as irregularidades da eleição?", perguntou.

"Algumas pessoas querem democracia para seu próprio interesse. Algumas querem eleições, liberdade. Elas apenas a reconhecem quando o resultado lhes favorece", afirmou.

Jogo de poder

Os polêmicos resultados eleitorais e as denúncias de fraude trouxeram à tona as antes obscuras cisões que há meses assolavam o regime iraniano.

A batalha entre os seguidores do presidente Ahmadinejad e do ex-líder Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, um dos homens mais poderosos do país, eclodiu depois que o atual líder acusou na televisão seu colega de corrupção e complô para acabar com seu governo.

Rafsanjani, que sempre esteve ao lado do fundador da República Islâmica, aiatolá Ruhollah Khomeini, que presidiu o país após sua morte e que na atualidade preside dois importantes órgãos de poder --o Conselho de Discernimento e o Conselho de Especialistas--, respondeu com uma carta ao líder supremo da revolução, Ali Khamenei.

No entanto, a máxima autoridade do país advertiu neste sábado que os inimigos buscam desestabilizar o país.

O ex-presidente ofereceu seu apoio a Mousavi, que no domingo em um panfleto distribuído entre seus seguidores advertiu que não se renderá.

Ocidente

O vice-presidente americano, Joe Biden, disse neste domingo que há "enorme dúvida" sobre o resultado das eleições iranianas.

"Devido à maneira com que [as autoridades iranianas] reprimem a liberdade de expressão, à maneira com que reprimem a multidão, à maneira com que são tratadas as pessoas, há verdadeiras dúvidas", afirmou.
Biden disse que, no entanto, não existem "evidências suficientes para fazer um julgamento definitivo".

O governo da França lamentou a reação "um pouco brutal" aos protestos contra a reeleição do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e pediu que as autoridades de Teerã e "a população civil" dialoguem.

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